segunda-feira, janeiro 23, 2006

tristezas...

tempo atrás, num momento meio confuso da vida, me vi numa mesa de bar com alguns amigos, num daqueles papos transcedentais-cabeça. depois de algumas cervejihas dançarem nos copos de requeijão, repicando por várias nuances da alma humana, despejo a pérola: “a gente nasce triste e sempre vai ser triste. o que tenta fazer é maquiar a tristeza ao máximo durante a vida”. não me lembro se a frase foi essa (pelo avançado da hora e o número de garrafas em cima da mesa, provavelmente não tenha sido), mas volta e meia acabo me lembrando disso.
todo bom depressivo (se é que bom depressivo é uma coisa plausível) tem momentos de extrema felicidade intercalados com extremas tristezas. como nada vem fácil, é meio óbvio que os momentos extremamente tristes são muito mais freqüentes e os felizes vêm com uma fugacidade cruel, feito moça nova que encosta o lábios e sai correndo.
mas de nada adianta ficar chorando mágoas, escorrendo pelos cantos, fugindo da realidade. a vida vive (com o perdão da redundância) uma relação de troca intensa conosco, quase como um swing. é uma merda mesmo. o negócio é conseguir perceber que até os momentos mais torturantes, quando parece que em vez de pisar na merda se mergulha nela, trazem alguma coisa que vai servir em alguma outra ocasião.
triste, tudo sempre vai ser. a graça de acordar de manhã sabendo que vai ser mais um dia comum. que nada vai acontecer pra balançar a alma. que os mesmos sorrisos vão bater aos olhos. que todos vão estar do mesmo jeito. que as mesmas brigas vão acontecer pelos mesmos motivos fúteis. a graça disso tudo está em escutar aquela música boba, que não significa nada de mais, botar um sorriso na cara e responder pro vizinho de oitenta e tantos anos, que todo o santo dia faz a mesma pergunta:
- óóó, cume qui vai a luta?
- Vai bem, vai bem...
... e continuar maquiando a tristeza com um pouquinho de felicidade.

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