sábado, novembro 18, 2006

reflexos

vira em
azulejos
de solidão

rejuntes
coloridos
do teu
pescoço

ladrilhos
ladras
escapando
dos
dedos

cintura
atoalhada

tu,
meio
mambembe

eu,
meio
circense

vira em
azulejos
de solidão

tua
pupila
anti-reflexo

espelhada
no
meu
rosto...

a volta dos que não foram

Faz tempo que não escrevo. Não vou mentir que colocar esse texto que fiz para a gloriosa disciplina de Redação IV foi uma encheção (ou enchessão, por que o Word não reconhece nenhuma das duas palavras) de lingüiça, talvez para tirar um termômetro de à quantas anda a minha vontade de publicar.
Também não vou mentir que durante esse tempo todo não me senti culpado por ter cultivado um espaço em que algumas pessoas perdiam o tempo lendo, e para o qual eu simplesmente deixei de dar bola. Mas não é culpa minha. Ou é.
Todo mundo que escreve sabe que existe uma entressafra, um tempo em que é melhor ficar quieto, não divulgar nada do que se pensa ou se sente, nada do que se chora ou se ri, do que se ama ou se odeia, nada do que se goza ou se decepciona. Não sei definir muito bem esse período para mim, mas foi um período estranho. Nada muito profícuo, nada muito interessante. Mas tenho certeza de que foi melhor ficar quieto (ou silente, ou “não-escrevente”).
Pretendo voltar agora, um pouco menos distante de quem lê, porque não tem coisa pior do que blogueiro que acha que tá falando sozinho. Vamos ver no que dá. Um há braço para todos.

um clube que merece o reconhecimento

vou postar aqui, depois desse tempo todo, uma materia feita sobre o Clube Amigos dos Animais, que desenvolve um trabalho muito bonito de conscientização.


Clube da Conscientização


“É o meu orgulho, o projeto da minha vida”. Assim, sem mais delongas, a veterinária Marlene Flores do Nascimento define o que representa para ela o Clube Amigos dos Animais e todos os outros projetos desencadeados a partir dele, que há dez anos cumpre um papel fundamental em Santa Maria: o de educar a sociedade para que aprenda a conviver e a respeitar os animais.

Proteger os animais e, ao mesmo tempo, educar a população não é uma tarefa fácil. Segundo Marlene, há aproximadamente vinte anos o poder público municipal não toma providências a respeito do controle populacional de animais na cidade. Além disso, as ações do Clube dos Animais e de qualquer outra entidade protetora dos animais não têm reconhecimento da prefeitura. Os órgãos públicos não estão interessados em ações nesse sentido e, de acordo com a veterinária, Santa Maria tem apresentado índices preocupantes de maus tratos aos animais, uma tendência que acompanha outras cidades do Sul do Brasil, onde a crueldade tem aumentado nos últimos anos. Situação oposta ao de outras regiões do Brasil, onde “existe uma conscientização maior sobre os direitos dos animais”, afirma.

Casos graves, como o ainda não comprovado (em andamento na justiça) de um carroceiro que recolhe animais na casa das pessoas, mentindo que levaria para a vila para doar a outras pessoas, e simplesmente enforca os cães, não são isolados. Há relatos de mais de dez cães enforcados pelo homem. “Infelizmente, é muito difícil que se comprove isso. O problema maior é a impunidade. Há algum tempo, quando houve uma campanha forte na mídia, seguida de punições aos malfeitores, os índices de violência diminuíram um pouco”, conta Marlene.

Mas, mesmo com esses percalços, o Clube Amigos dos Animais segue seu ótimo trabalho. Hoje, o Clube conta com cerca de quarenta apoiadores, sendo que cinco pessoas têm um trabalho contínuo, acompanhando Marlene. A proposta do Clube hoje é, fundamentalmente, de conscientização da sociedade. Seus três pilares de ação são: “educação, posse responsável e esterilização”. Trata-se de uma entidade não-eutanásica (contra o sacrifício de animais), que se propõem não a resolver os problemas das pessoas, mas sim, a estimular e ensinar o caminho para que cada um consiga lidar com os próprios problemas. É também totalmente contra os abrigos para animais. Quanto a isso, a Marlene conta uma história interessante: “quando criança, meu sonho era ter um abrigo de animais. Depois que virei veterinária, eu vi o horror que é um abrigo, a forma como maltratam os animais. Por isso não posso nem ouvir falar em abrigo”. Na esteira da crítica aos abrigos a veterinária analisa a onda da moda, as pet-shops: “Não me agrada esse consumismo todo, as pessoas estão humanizando os animais. Animal não é ser humano”, além disso, feiras de animais também estão no rol de maltratos aos bichinhos. Para a veterinária, faltam leis que regulamentem os direitos dos animais no Brasil.

A ação mais antiga do Clube em Santa Maria é a Feira do Vira-lata, uma feira dominical de doação dos famosos vira-latas (animais sem raça definida) esterilizados, que já contabiliza mais de mil e quinhentos animais doados, entre cachorros e gatos, desde 1996. Inicialmente, eram doados os animais na hora, para qualquer interessado. Hoje a conduta é diferenciada. É feito um cadastro para adoção na feira e uma visita à casa do interessado é agendada. Após a visita, o animal só é encaminhado castrado e se a pessoa interessada for considerada apta à adoção. “As pessoas pegavam os animais por impulso e depois os tiravam de casa, o que acabava só aumentando nosso trabalho”, lamenta Marlene, que afirma que com essas precauções isso tem ocorrido muito menos.

Em paralelo, são feitas campanhas permanentes de esterilização, onde já foram realizadas mais de duas mil cirurgias. Segundo um cálculo apresentado no site www.clubeamigosdosanimais.com.br, se essas cirurgias não tivessem sido feitas, a população de gatos e cachorros da cidade teria um acréscimo de cerca de vinte mil animais, o que comprova a importância do trabalho desenvolvido. Outra ação importante foi o projeto e construção da primeira Unidade Móvel para cirurgias de esterilização do Brasil. Em parceria com a Aliança Internacional do Animal – AILA, patrocinadora do projeto, um ônibus foi estruturado sob a supervisão médica de Marlene, percorrendo diversos pontos da cidade.

Hoje, a menina dos olhos de Marlene e dos integrantes do Clube é o Projeto Vida. Vencedor do prêmio Ação de Incentivo do Instituto Nina Rosa – São Paulo (entidade que atua na área de educação relacionada com animais e meio ambiente) em 2005, em uma disputa nacional, o Projeto Vida realiza palestras, apresenta vídeos em escolas, desenvolve ações comunitárias para o bem-estar animal em bairros carentes de Santa Maria e em São José do Norte, desde 2004. E o apoio não conseguido do poder público local, o Clube conseguiu em São Jose do Norte. Através de um convênio com a prefeitura da cidade litorânea, a veterinária Marlene contará com toda a estrutura da cidade para continuar seu trabalho, desde a vigilância sanitária, passando por professores e agentes municipais até o envolvimento da comunidade local.

São dez anos de trabalho árduo e muita dedicação. Hoje, a obra do Clube Amigos dos Animais transcende à simples esterilização ou doação de animais. É um trabalho que envolve a conscientização da sociedade para com o bem-estar de todos, da natureza, dos animais e do meio ambiente.