sábado, janeiro 07, 2006

meu avô

nunca tive uma relação fantástica com o pai da minha mãe, meu avô darci. ele nunca foi do estilo bonachão, não fazia muitas brincadeiras. na realidade meu avô era muito sério. desde novo sempre foi muito econômico, sempre pensando em poupar. somos de origem alemã nesse lado da família. imigrantes pobres, o que deve ter feito a infância dele não ter sido das mais agradáveis. minha bisavó casou cedo e forçada, com um homem mais velho, que acabou morrendo quando meu avô ainda era jovem. dona ida, como era chamanda, acabou virando uma mulher amarga, sem muita alegria de viver, ficando esclerosada já na velhice. e minha bisavó sempre morou com meu avô, filho único. mesmo depois que ele casou e minha mãe e meus tios nasceram. engraçado nessa vida é como os opostos se atraem e, acho eu, se completam. minha avó, hilária, é absurdamente o oposto do meu avô. ela sim é bonachona e faz todas as vontades dos netos. e essa postura dela sempre aumentou e potencializou a brabeza do meu avô.
durante alguns anos eu e minha mãe moramos na casa dos meu avós. bem, não era bem na mesma casa (graças a deus, para a sanidade mental de todos), era numa casa que ficava no mesmo terreno, atrás da casa deles. minha bisavó ainda era viva e já estava esclerosada, o que elevou o nível de conflito entre eu, guri de nove anos, e meu avô, homem de setenta, já acometido da doença nos rins que o levou a fazer hemodiálise durante anos. as brigas eram constantes e, geralmente, por motivos muito, mas muito idiotas. naquela época eu realmente não gostava muito do meu avô.
o engraçado aqui é que eu comecei a mudar essa minha visão do meu avô, de autoritário e insensível, exatamente no dia em que nos mudamos da casa deles para um apartamento no bairro teresópolis. foi o velho quem nos levou enquanto o caminhão da mudança ia e, na última das idas e vindas, quando realmente íamos ficar para arrumar as coisas, aconteceu. no corredor do prédio (impressionate como tenho essa imagem viva na minha cabeça) ele, meio balbuciante, disse que não precisávamos ter nos mudado, nos abraçou e virou as costas chorando, em silêncio. não sei o que aconteceu àquela hora, mas sempre gosto de acreditar que ele viu que as coisas não precisavam ser do jeito que eram, que a vida, apesar de ser muito, não precisava sempre ser tão amarga e triste.
óbvio que nos anos que se passaram ele continuou ranzinza e implicante. mas alguma coisa eu acho que mudou. não era tanto como era antes. e não sou eu quem vai esperar que alguém de setenta e tantos anos mude o jeito de ser duma hora pra outra.
meu avô faleceu há quatro anos e meio. há um tempo já morávamos aqui em santa maria e eu, por uma decisão idiota dessas que a gente toma na vida, não fui no enterro. não sei por que escrevo sobre ele, nem o que quero fazer com isso. talvez seja um descargo de consciência ou saudade mesmo. apenas gosto de pensar que ele morreu, depois de tanto sofrimento pelas constantes infecções, doenças e dificuldades da vida, sabendo que todos que cercavam ele o amavam muito e sabiam que ele, do jeito singular que só ele tinha, amava a todos também.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

jorge wagner renova com internacional

e o fax chegou. depois de um mês de expectativa pela liberação do atleta baiano, o internacional recebeu hoje a confirmação do lokomotiv moscou e anunciou a permanência de jorge wagner até agosto de 2006. jogador colorado desde janeiro de 2005, wagner teve desempenho mediano no ano passado, não correspondendo às expectativas criadas em torno de seu futebol. acusado de tremer em jogos decisivos e já desacreditado por parte da torcida, wagner terá a verdadeira chance de mostrar seu valor nesse novo ano. improvisado por muricy ramalho na lateral esquerda, posição onde nunca havia atuado antes, o meia foi prejudicado pela necessidade de jogar defensivamente, num esquema que o prejudicava em detrimento do pseudo-craque élder granja. soma-se a isso algumas lesões que o impediram de adquirir ritmo e uma fase técnica realmente ruim.
agora sob o comando de abel, com quem trabalhou no bahia e que tem confiança plena nas suas capacidades, resta esperar dele a resposta que não veio em 2005. bola no pé ele tem, mas será que será o suficiente para levar o inter à uma campanha exitosa numa competição exigente como a libertadores da américa? o internacional parece seguir a receita do grêmio, não gastando muito e apostando em motivação e conjunto para chegar às vitórias. mas convém lembrar que motivação e conjunto sem qualidade não adianta nada.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

rosas

depois do brilhante texto de abertura abaixo, vou tentar encher linguiça com um escrito antigo, acho que de 2003, enquanto descubro o que faço com esse tal de blog...
há braços

rosas

o tempo passava devagar naquele ano. ficávamos horas jogando conversa fora e bebendo nos bares mais sujos e perigosos da cidade. quando ele morreu nada mais sobrou de engraçado nas nossas noites. era um cara legal, bebia bastante e sempre sabia falar a coisa certa no momento certo. o erro foi ter conhecido aquela mulher. tudo mudou desde então: não bebia mais, não viajava, dormia bem todas as noites, trabalhava e até pensava em ter filhos.
um dia chegou em casa e pegou a vagabunda com dois caras na cama. poderia ser uma história comum. não foi. ele não era herói – e sabia disso. ela não era santa – e sabia disso. mas mesmo assim sentia por ele algo que nunca tinha sentido por ninguém: - eu sinto pena de ti, ela disse, quando ele entrou pela porta do quarto com um buquê de rosas que tinha comprado para comemorar o aniversário de casamento. eu também, respondeu, virando as costas e saindo até a cozinha. dois minutos depois, voltou. foi até a cama e apontou uma faca pro pescoço dela, olhou pros garotões e mandou eles darem o fora.os caras se mandaram.
ele, então, cruzou fundo o olhar, apertou o peito contra o dela, e fez um corte no próprio braço. o sangue começava a formar uma poça em cima da cama, quando pegou o buquê de rosas e disse, olhando para as pernas trêmulas da mulher: - agora, come cada pétala e bebe todo sangue que sair de mim. ela tentou reagir, mas o fio da faca na garganta convenceu-a a fazer o que ele mandava. comeu uma por uma das pétalas e bebeu cada gota de sangue que saía do braço dele. e então as pétalas acabaram. ela o olhou, com a boca rubra, quando de repente ele lhe deu um beijo e enfiou a faca na barriga dela, com toda força que pôde. ela olhou pra ele e sussurrou, quase sem forças: - eu tenho pena de ti. eu também – ele respondeu cortando a jugular com um fino toque da faca.
o tempo tem passado devagar ultimamente. ficamos horas bebendo e jogando conversa fora nos bares mais sujos e perigosos da cidade. hoje faz três anos que ele morreu. em toda mesa que sentamos, existe um buquê de rosas vermelhas.


meio pesado prum início...mas vá lá...

terça-feira, janeiro 03, 2006

blá blá blá blá

blá blá blá blá blá blá