terça-feira, novembro 21, 2006

Atrasos


Interessantes essas notícias sobre os atrasos intermináveis dos vôos nos maiores aeroportos do Brasil. Todo o viés por onde se analisa essa questão pode trazer umas conclusões esclarecedoras (ou não muito), mas tem uma que me parece ser a mais irônica.
Deu no noticiário, filmada por um dos manifestantes (provavelmente por sua própria câmera digital), a invasão da pista do aeroporto de Curitiba, por passageiros revoltados com os atrasos de seus vôos.
Aqui cabe culpa de todos. Do governo que não resolve a situação, do exército que não consegue lidar com uma rebelião dentro das suas trincheiras, das companhias aéreas, que deixam seus clientes, que pagaram muito caro pela passagem, a ver navios (com o perdão da ironia), sem o mínimo de informação.
Mas o engraçado de tudo é o protesto. Observando as imagens, parece claro que as pessoas que ali estavam são, no mínimo de classe-média, bem vestidas, bem instruídas, com acesso à informação. Devem assinar um ou dois jornais, mais uma revista semanal e ter acesso à internet banda larga. Então o que é engraçado? A invasão. Essas mesmas pessoas, de classe média alta, provavelmente reprovam, quando vêem na TV, a invasão por sem-tetos à um prédio abandonado, um protesto de uma comunidade carente que bloqueia uma estrada, criticando as altas taxas de criminalidade ou coisa que o valha. Ou quem sabe um quebra-quebra ou linchamento, fruto da revolta pelo assassinato de uma pessoa de bem numa vila qualquer.
- Que absurdo! Nada justifica essa selvageria!
- Por que “essa gente” não protesta de outro jeito?
- A liberdade dos outros termina onde começa a minha!
- Quem “essa gente” pensa que é, trancando a estrada desse jeito?
- A polícia tinha que descer o cacete nessa gente!
Frases como essa são ditas todos os dias, repetidas em todos os cantos do Brasil. A diferença agora? Doeu no de quem não costuma doer. Não sei quantas vezes algo como isso aconteceu, mas não é muito comum nesse país pessoas com maior poder aquisitivo passarem por esse tipo de situação. Mas estão (ou estamos, para não ser hipócrita) passando. Talvez possamos tirar uma lição boa dessa história toda. Até porque, afinal, no dos outros é refresco. E não faz mal!