quarta-feira, novembro 26, 2008

Professores de la Plata


Inter e Estudiantes não foi um clássico jogo entre brasileiros e argentinos. Foi um massacre.

Não que o time argentino não seja o clássico time argentino. O Estudiantes estava invicto há mais de 40 jogos no bonito estádio Ciudad de la Plata.

Não que o Inter não jogue como um clássico time brasileiro. Um grande trio de atacantes, salvaguardado por uma defesa bem postada de zagueiros técnicos.

O que diferenciou o jogo das propaladas "batalhas" é que a vitória veio ao natural. O time colorado não precisou de uma jornada épica para ganhar, com um a menos, do até então imbatível time do Estudiantes dentro da sua casa. E é isso que o diferencia do seu maior rival. O Inter não se julga pequeno, coitadinho ou perseguido pelos maus não-gaúchos.

O time da beira do rio, do aterro, da bóia cativa, é grande. Não inventa catástrofes, tragédias ou vitórias épicas. Não é um clube transformista da própria história. Um transgênero com problemas existenciais. Não precisa deitar num divã para tratar manias de inferioridade. O jogo foi jogo. E é só isso que um jogo é. O time argentino é forte. Mas foi dobrado pela maior qualidade do adversário. Muitas vezes, o time melhor perde. Não foi o caso.

Verón é um grande jogador, mas cansou, pois tornou-se uma ilha, responsável único pelas jogadas de ataque. O resto do time é igual à grande maioria dos argentinos: raçudos que jogam medianamente. O que não diminui a qualidade do conjunto, muito bem treinado pelo "grande" Astrada.

Do jogo em si, uma arbitragem localista, que expulsou guiñazu sem pensar, mas contemporizou na hora dos amarelos argentinos. Dois impedimentos colorados mal assinalados e um pênalti indiscutível.

As maiores chances foram do time gaúcho, que, no contra-ataque, poderia ter matado o jogo em pelo menos 2 a 0.

E é aí que entra o massacre. O time colorado foi tão forte, que parou os argentinos. A suposta pressão do time de la Plata só serviu para fazer de Lauro o mais presente nas fotografias. Até Edinho não comprometeu (apesar e entregar três bolas para contra-ataques no meio do campo).

Se o Inter vai ser campeão? Não sei. Jogos ruins, erros de treinador e soberba estão aí para provar que tudo pode acontecer no Beira-Rio, mas a tendência é ganhar.

Enfim, depois dessa vitória, não veremos louvação ao Inter. Ganhou por um único motivo: é melhor. Heroísmo contra time de menos expressão é coisa de clube pequeno, que nem alguns que tem por aí.

Aliás, essa história de épico para lá e para cá tem muito a ver com esse mito do gaúchomelhorquetudopovomaismelhordebomdobrasil. Mas isso é assunto para outro post.




domingo, novembro 23, 2008

Obama e os céticos



O que talvez seja mais importante na eleição de Barack Obama, afora o óbvio significado que existe em um homem negro chegar à presidência da nação mais representativa do mundo, respaldado por uma imensa maioria eleitoral, é o golpe dado nos céticos.

Durante oito anos, talvez mais, diversos comentaristas políticos e de economia tergiversaram sobre as possibilidades de alternativa política no mundo, embebidos no porre de imbecilidade da administração Bush. Nesse tempo, as alternativas apresentadas para esse padrão de burrice foram das mais absurdas:

- o ditadormaisquetudosuperpoderoso Hugo Chávez: imbecil como Bush, chavito tentou ser ditador. Não conseguiu e elegeu-se legitimamente. E reelegeu-se depois. Provavelmente mais democrático do que todos os que o antecederam, virou a Geni dos babadores de saco da suposta "democracia" americana, por ser supostamente de uma "esquerda autoritária", que tanto atormenta políbios e reinaldos por aí. Resultado disso, Chávez, na realidade não fede nem cheira. É o presidente de um país que tem importância mais do que secundária e, com o fim da Era Bush e do antagonismo com a anta do Texas, tende a sumir politicamente. Mas sempre viverá no coração dos pseudo-direitistas da América Latina (que não passam de pessoas sem o mínimo conteúdo ideológico, antes fossem de direita mesmo), afinal, ali está um bode espiatório para a absoluta falta de idéias desse grupo.

- o ditadoriranianodenomedifícil: um perigo para a democracia do mundo, destruiu pelo menos sete países do Oriente Médio, matando milhões, um novo Hitler. Entre analistas, parece sempre haver alguém com vontade de dizer: "esse é muito perigoso". Por favor.

E por aí vai.

Durante esse período negro (que ironia, não?) da nossa existência, os comentaristas, blogueiros e seres humanos de menor qualidade em geral ficaram divididos, na grande maioria, em duas facções:

- amomuitotudoissobushsempreteamobeijomeligasempretodahora

- bushmauodeioeuaadorochavitoqueromuitoqueacoréiatenhabomba

Essa pseudo-luta por um "mundo ideologicamente do meu jeito", vulgo lenga-lenga, durou tanto tempo, mas tanto tempo, que parece que a maioria das pessoas parou de sonhar com uma vida realmente melhor (ok, muito piegas). Nos acostumamos tanto com a impossibilidade de presenciar uma mudança de políticas, uma mudança de conduta nas nossas vidas que nos acomodamos.

A total falta de lideranças representativas, que realmente expressassem a vontade social de uma maioria oprimida não pelo capitalismo mau, mas pela falta de soluções para o dia-a-dia, atuou como uma dose de xilocaína na cabeça das sociedades, fazendo com que se esquecesse que as coisas não têm que ser "assim mesmo, não adianta querer mudar".

E é aí que entra Barack Obama. O que será que representará às gerações futuras todas aquelas pessoas que madrugaram e esperaram três, quatro horas para votar, em um país onde o voto é facultativo?

O que representará para o futuro, a volta dessa esperança de que as coisas podem melhorar?

Eu não tenho bola de cristal, pode tudo dar errado, Obama pode ser mais um sem-vergonha que enganou a todos, mas mal não pode fazer. E isso deve estar matando os céticos. Afogando-os em uma tristeza sem fim. O que pode fazer um cético que começa a sentir esperança? Nem suicidar-se, conseguirá.

Certamente as desigualdades não vão diminuir, as coisas não vão deixar de ser difíceis para a esmagadora maioria das pessoas.

Mas, nesse momento, e daí?

O que ocorre é que, o que senti quando, a mais de oito mil quilômetros de distância, me emocionei assistindo ao discurso da vitória de Obama, foi algo completamente novo. Não havia nunca me sentido asism depois de começar a ter consciência do que acontece ao meu redor. E foi muito bom. Sonhar, enfim, não é uma coisa ridícula. Expressar esses sentimentos não pode ser tão ruim assim. E, por enquanto, me basta repetir, para mim mesmo, o bordão batido da campanha: yes we can!


De volta

Como todo o blogueiro que se preste, vou tentar voltar a postar no blog.
Essa deve ser, se não me engano, a terceira promessa de volta a esse espaço. Portanto, não vai ser nenhuma surpresa se não durar mais de quatro posts essa recaída.

PS = confesso que essa volta é estimulada pela leitura seguida dos blogs dos distintos colegas, Flávio Aguilar e Eduardo Nunes. Leitura que recomendo.

Para encher linguiça, deixo um pequeno poema, escrito há mais de cinco anos, mas que me faz lembrar da minha filhota, e se aplica perfeitamente a esses difíceis dias de distância.


Estrelas

Os pingos de chuva
Escorrendo pela janela
Das tuas vidas

São como estrelas
Tristonhas de saudade
Caindo no colo
De uma menina...

(extraído do livro Santainvasão Poética, 2003)