domingo, novembro 23, 2008

Obama e os céticos



O que talvez seja mais importante na eleição de Barack Obama, afora o óbvio significado que existe em um homem negro chegar à presidência da nação mais representativa do mundo, respaldado por uma imensa maioria eleitoral, é o golpe dado nos céticos.

Durante oito anos, talvez mais, diversos comentaristas políticos e de economia tergiversaram sobre as possibilidades de alternativa política no mundo, embebidos no porre de imbecilidade da administração Bush. Nesse tempo, as alternativas apresentadas para esse padrão de burrice foram das mais absurdas:

- o ditadormaisquetudosuperpoderoso Hugo Chávez: imbecil como Bush, chavito tentou ser ditador. Não conseguiu e elegeu-se legitimamente. E reelegeu-se depois. Provavelmente mais democrático do que todos os que o antecederam, virou a Geni dos babadores de saco da suposta "democracia" americana, por ser supostamente de uma "esquerda autoritária", que tanto atormenta políbios e reinaldos por aí. Resultado disso, Chávez, na realidade não fede nem cheira. É o presidente de um país que tem importância mais do que secundária e, com o fim da Era Bush e do antagonismo com a anta do Texas, tende a sumir politicamente. Mas sempre viverá no coração dos pseudo-direitistas da América Latina (que não passam de pessoas sem o mínimo conteúdo ideológico, antes fossem de direita mesmo), afinal, ali está um bode espiatório para a absoluta falta de idéias desse grupo.

- o ditadoriranianodenomedifícil: um perigo para a democracia do mundo, destruiu pelo menos sete países do Oriente Médio, matando milhões, um novo Hitler. Entre analistas, parece sempre haver alguém com vontade de dizer: "esse é muito perigoso". Por favor.

E por aí vai.

Durante esse período negro (que ironia, não?) da nossa existência, os comentaristas, blogueiros e seres humanos de menor qualidade em geral ficaram divididos, na grande maioria, em duas facções:

- amomuitotudoissobushsempreteamobeijomeligasempretodahora

- bushmauodeioeuaadorochavitoqueromuitoqueacoréiatenhabomba

Essa pseudo-luta por um "mundo ideologicamente do meu jeito", vulgo lenga-lenga, durou tanto tempo, mas tanto tempo, que parece que a maioria das pessoas parou de sonhar com uma vida realmente melhor (ok, muito piegas). Nos acostumamos tanto com a impossibilidade de presenciar uma mudança de políticas, uma mudança de conduta nas nossas vidas que nos acomodamos.

A total falta de lideranças representativas, que realmente expressassem a vontade social de uma maioria oprimida não pelo capitalismo mau, mas pela falta de soluções para o dia-a-dia, atuou como uma dose de xilocaína na cabeça das sociedades, fazendo com que se esquecesse que as coisas não têm que ser "assim mesmo, não adianta querer mudar".

E é aí que entra Barack Obama. O que será que representará às gerações futuras todas aquelas pessoas que madrugaram e esperaram três, quatro horas para votar, em um país onde o voto é facultativo?

O que representará para o futuro, a volta dessa esperança de que as coisas podem melhorar?

Eu não tenho bola de cristal, pode tudo dar errado, Obama pode ser mais um sem-vergonha que enganou a todos, mas mal não pode fazer. E isso deve estar matando os céticos. Afogando-os em uma tristeza sem fim. O que pode fazer um cético que começa a sentir esperança? Nem suicidar-se, conseguirá.

Certamente as desigualdades não vão diminuir, as coisas não vão deixar de ser difíceis para a esmagadora maioria das pessoas.

Mas, nesse momento, e daí?

O que ocorre é que, o que senti quando, a mais de oito mil quilômetros de distância, me emocionei assistindo ao discurso da vitória de Obama, foi algo completamente novo. Não havia nunca me sentido asism depois de começar a ter consciência do que acontece ao meu redor. E foi muito bom. Sonhar, enfim, não é uma coisa ridícula. Expressar esses sentimentos não pode ser tão ruim assim. E, por enquanto, me basta repetir, para mim mesmo, o bordão batido da campanha: yes we can!


3 comentários:

Anônimo disse...

Bah, Pedro. Disse tudo. Como podemos ter esse sentimento de esperança mesmo tão longe?
Mas o que eu acho mais legal nisso tudo, é a história que nós estamos vivendo. Imagina daqui uns 15 anos tu contando pra Cecília que ela naceu no ano em que a esperança se renovou. É impossível prever o que vNão seiai acntecer, mas tu vai poder dizer pra ela que naquele momento tu, o boa parte do mundo,acreditaram que: Yes, we can!

beijomeliga ;)

Anônimo disse...

Noossa, a pessoa tava meio bêbada quando escreveu esse comentário...

Flávio Aguilar disse...

Fazer o quê? Hoje em dia, apostar no pior é sempre mais fácil. Normalmente, é o pior que acontece. Claro, estou no campo político-ideológico, meramente. Um lugarzinho divertido e do qual tentamos nos distanciar cada vez mais, tentando viver ridicularmente distantes disso tudo que decide nossas vidas. As desilusões passadas vaticinaram todos a uma postura medrosa, cética, inócua.